“Precisamos focar nos problemas a serem solucionados com o uso da tecnologia e criar um futuro positivo”, diz fundador da Khan Academy ao lançar o Khanmigo para professores brasileiros

Plataforma gratuita Khanmigo, tutor inteligente com Inteligência Artificial (IA), é lançada para professores brasileiros

O norte-americano Salman Khan, CEO e fundador da organização sem fins lucrativos Khan Academy, está no Brasil e participou de um evento nesta quarta-feira (04/06) para debater o uso de Inteligência Artificial na educação pública brasileira. No encontro, realizado com apoio da Fundação Lemann na sede do Insper, em São Paulo (SP), também foi lançado o novo produto da organização, o Khanmigo para professores, ferramenta de IA que atua como um tutor inteligente, podendo ser personalizada às necessidades de educadores e estudantes.

Salman Khan destacou no evento a importância de os educadores entenderem e usarem de forma adequada a IA na sala de aula, seja como e aos docentes ou na aprendizagem dos estudantes. “Precisamos pensar no que nós, como educadores, queremos ter como norte antes de introduzir a inteligência artificial”, disse Khan. “O que acontece em um sistema educacional tradicional é que os estudantes são obrigados a seguir no mesmo ritmo, e é natural que existam lacunas no aprendizado entre esses estudantes. Tutoria e aprendizado personalizado podem ser a solução, e isso pode ser obtido por meio de ferramentas tecnológicas como a Khan Academy e o Khanmigo”, explicou.

A ferramenta lançada por Khan foi disponibilizada para professores brasileiros de forma gratuita.  Durante o evento ele demonstrou o seu funcionamento, com exemplos de usos na educação. Para os educadores, a ferramenta ajuda a elaborar planos de aula, por exemplo, e a acompanhar de perto o desenvolvimento de cada estudante, atuando conforme suas demandas. 

A verdadeira aprendizagem acontece quando estudantes podem praticar os conceitos que aprendem, recebem de seu trabalho e quando seus professores podem identificar onde estão essas dificuldades,” disse Sal Khan. 

Para ele, o uso da tecnologia pode ser positivo na educação, e reflete: “A tecnologia sempre dependerá da intenção dos humanos. Haverá pessoas que irão usar a IA para trapacear, manipular e espalhar mentiras. Mas precisamos focar nos problemas a serem solucionados com o uso dessa tecnologia e criar um futuro positivo”, destacou. “Não acreditamos que IA por si só vai aumentar o desempenho escolar. Mas podemos usá-la para melhorar a inteligência e empatia dos humanos.”



Tecnologias educacionais 

No evento, especialistas também discutiram o papel da infraestrutura digital na implementação de tecnologias educacionais. Participaram Cainã Perri, gerente de Parcerias da Khan Academy; Danilo Yoneshige, CEO da Layers Education; André Batista, professor e CTO do Insper; Bruno Cani, diretor da VélezReyes+; e Guilherme Cintra, diretor de Inovação e Tecnologia da Fundação Lemann, como mediador do debate. 

Perri também apresentou a Khan Academy e o Khanmigo, detalhando as funções, a implementação e a eficiência do instrumento em contexto global e brasileiro.  “Acreditamos que a Inteligência Artificial já está remodelando a forma como a gente aprende e ensina. Por isso, a Khan olha com seriedade para o uso ético, seguro, responsável e eficaz, e usa a tecnologia garantindo impacto na aprendizagem e equidade” , afirmou Perri.

Bruno Cani, Diretor da VélezReyes+, que apresentou a Aliança de IA para Educação, uma iniciativa da Fundação Lemann, Telles Foundation e VélezReyes+, também destacou a necessidade de personalizar o ensino. “Quanto mais personalização, maior a aprendizagem. Com a Aliança, poderemos alavancar a IA na educação pública brasileira”, disse.

O segundo do evento discorreu sobre a implementação da Khan Academy para estudantes nos estados de São Paulo, Ceará e Paraná. Participaram do Roni Miranda, secretário de Educação do Estado do Paraná; Renato Feder, secretário de Educação do Estado de São Paulo; e Iane Nobre, coordenadora de Gestão Pedagógica na Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Cristieni Castilhos, CEO da MegaEdu, foi a mediadora.

O Paraná foi o primeiro estado a usar o Khanmigo no Brasil, sendo pioneiro na América Latina. “Plataformas de tecnologia trazem inclusão e equidade para a educação, especialmente para estudantes da escola pública. Lembrando que tudo isso só acontece com a mediação do professor”, destacou o secretário Roni Miranda.

Já Iane Nobre contou que a implementação da Khan Academy no Ceará foi em 2024, já com resultados. “A tecnologia sozinha não melhora a educação, mas quando bem utilizada por educadores comprometidos pode transformar o aprendizado em algo mais envolvente, personalizado e eficaz”, enfatizou.

O terceiro e último abordou o tema “Papel dos professores na implementação de tecnologias educacionais no Brasil e no Mundo”, com a participação de Shubhra Mittal, responsável pela estratégia e operações do programa da Khan Academy; Ghislaine Liendo Vidal, head de parcerias na América Latina da Khan Academy; Ana Lígia Scachetti, CEO da Nova Escola; e mediação de Luiza Toledo, diretora executiva do Instituto Apis e gerenciadora do portfólio de doações da Fundação Telles.

A implementação não aconteceu da noite para o dia. Foram precisos anos de trabalho com a diretoria regional de Lima para que a Khan Academy fosse introduzida da melhor forma nas salas de aula,” afirmou Ghislaine, que apresentou para a audiência o caso de sucesso da organização na cidade de Lima, capital do Peru. Segundo ela, os professores do município aprenderam a interagir com a plataforma, usando-a para preencher lacunas no aprendizado de seus alunos e reduzir o tempo de preparação das aulas.

Como responsável pela implementação da plataforma na Índia, Shubhra também falou da importância de o programa ser uma iniciativa gratuita em um país de grandes desigualdades educacionais entre ensino público e privado. Por fim, Ana Lígia apresentou a missão da Associação Nova Escola de apoiar a educação pública brasileira em sua plataforma digital, focada no aprendizado de professores. De acordo com a CEO, a maioria deles enxerga a IA como oportunidade para sua prática, economizando seu tempo ao auxiliar com tarefas. “Nosso objetivo nunca será substituir o professor, e sim garantir que ele tenha um maior repertório”, explicou.

Compartilhe